segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Otimista incorrigível

Este blog é pra louvar o Senhor, meu Deus.
Mas eu senti que devia postar aqui um texto que faz parte do livro 'Um otimista incorrigível', de Michael J. Fox. Lembra dele? O ator baixinho que fez a trilogia "De Volta para o Futuro".Por causa do uso excessivo de drogas quando era mais jovem, a saúde dele ficou comprometida e desencadeou o quadro de Mal de Parkinson, quando ainda nem tinha 30 anos.
Hoje, Michael J.Fox tem 48 anos e luta pela cura da doença e também pela manutenção da dignidade da própria vida.
Sempre fui fã desse ator, que é canadense, mas se consagrou nas séries e filmes americanos. E eu resolvi reproduzir aqui esse trecho pra quem quiser dar uma lida, mesmo que não seja fã dele, ou de cinema, porque sua luta, com alegria, me comoveu profundamente.
Aí, eu entro aqui, não com um salmo, mas com meu agradecimento por ter tido a chance de ler esse relato - quero ler o livro todo.
E também agradeço por estar bem de saúde e principalmente, por acreditar que Deus nos capacita a enfrentar todos os tipos de problemas. E que nem sempre, o problema da gente é maior que o dos outros.
Não estou comparando, porque não vejo consolo na comparação.
Mas queria compartilhar a idéia de que quando a gente tiver a sensação que tem apenas o tamanho de um grão de areia, a gente deve pedir ajuda a Jesus. Simplesmente, conversar com Ele. Abrir o coração e pedir ajuda.
Eu tenho feito isso e o Senhor tem feito eu me sentir um grão de areia bem forte e resistente.
E aí eu sinto que nenhum dos meus problemas é maior que o amor de Deus por nós.
Amém!
Glória a Deus somente por isso!


Publicado em O Globo - 15/11/2009

Nas primeiras páginas de 'Lucky man', descrevo uma manhã na Flórida, há dezenove anos, quando acordei com uma bela ressaca e meu dedo mindinho tremendo. Nos anos seguintes, minha vida passou por grandes mudanças. Na maioria das manhãs, por exemplo, acordo e meu dedo mindinho está totalmente imóvel; o problema é o restante do meu corpo, que treme de forma incontrolável. Tecnicamente, meu corpo só fica em paz por completo quando minha mente está em repouso total - ou seja, dormindo. Atividade cerebral baixa signifi ca menos neurônios queimando ou, no meu caso, pulando. Quando estou acordando, antes de a minha consciência acordar e saber o que está acontecendo, meu corpo já recebeu insistentes instruções neurais para que se mova, se torça e contorça. E qualquer chance de voltar a dormir já era.

Nesta manhã, Tracy já se levantou, está preparando o café da manhã e aprontando as crianças para a escola. Tateio o criado-mudo à procura de um frasco de plástico, engulo dois comprimidos e sigo rapidamente para a primeira de uma série de atividades que, mesmo sendo automáticas, demandam grande determinação. Levanto as pernas e as levo até o lado da cama. No instante em que meus pés encostam no chão, os dois começam a lutar. A distonia, uma doença complementar ao Parkinson, faz meus pés doerem e se curvarem para dentro, pressionando meus tornozelos contra o chão e fazendo as solas dos meus pés se encontrarem, como se estivesse juntando as mãos em uma prece. Arrasto meu pé direito até a ponta do tapete e pego com os dedos meu mocassim de couro. Forço o pé para dentro dele e repito o processo com o esquerdo. Então, com cuidado, me levanto. Confortados pela firmeza do couro, meus pés começam a se comportar. Os espasmos pararam, mas as dores ainda vão durar uns vinte minutos.

Primeira parada: banheiro. Vou poupar você dos detalhes iniciais da minha visita. Digo apenas que, para quem tem Parkinson, é essencial deixar o assento da privada levantado. Pegar a pasta dental não é nada comparado ao esforço feito para coordenar o trabalho das duas mãos, uma segurando a escova e a outra tentando colocar uma linha de pasta nas cerdas.

A versão refletida de mim, molhada, tremendo, enrugada, embaraçada e um pouco curvada seria alarmante, não fosse pela expressão de satisfação estampada em meu rosto. Eu me faria a pergunta óbvia, "do que você está rindo?", mas já sei a resposta: "a partir de agora o dia só melhora"
Agora, minha mão direita já está levantada e fazendo movimentos circulares com meu punho, perfeito para o que farei em seguida. Minha mão esquerda guia a direita até a boca e, quando a parte de trás da escova toca a gengiva atrás do lábio superior, eu a solto. É como soltar o elástico de um estilingue e, comparando, é tão poderoso quanto a melhor escova elétrica que existe no mercado. Contudo, não há o botão "desligar", então preciso parar meu braço direito com a mão esquerda, forçando-o para baixo até a pia e desarmando-o da escova, como se faz com alguém com uma faca em um filme. Em geral, consigo saber se estou em um bom dia para fazer a barba ou não, e, nesta manhã, como na maioria delas, decido que é cedo demais para arriscar uma carnificina. Resolvo passar apenas o barbeador elétrico rapidinho. E viva Miami Vice!

Um banco no chuveiro dá uma força aos meus pés, e a água batendo constantemente em minhas costas tem efeito terapêutico, mas, se ficar muito tempo sentado aqui, posso não me levantar mais. Vestir-me já é mais fácil, graças aos comprimidos, que começam a fazer efeito. Evito roupas com muitos botões ou cordões, porém sou viciado em Levi's 501, o que me faz ser uma vítima da moda no estrito senso da palavra. Em vez de me pentear de verdade, ergo os dedos tremulantes até a cabeça, passo a mão no cabelo e torço para ter ficado bom. Viro-me devagar (minhas pernas ainda não ganharam confiança hoje) e sigo em frente para ver minha família.

Na saída do meu quarto para o corredor, há um grande espelho antigo com moldura de madeira. Não consigo evitar dar uma olhadela em mim mesmo enquanto passo por ele. Virando-me totalmente para o espelho, considero o que estou vendo. Essa versão refletida de mim, molhada, tremendo, enrugada, embaraçada e um pouco curvada seria alarmante, não fosse pela expressão de satisfação estampada em meu rosto. Eu me faria a pergunta óbvia, "do que você está rindo?", mas já sei a resposta: "a partir de agora o dia só melhora".